Minha senhora, há muito tempo não nos víamos
Derrotados, cabisbaixos
Oblíquos,
esdrúxulos, desgarrados
Implorando misérias, favores e concessões
Eles se refastelam com o banquete de
enganos
Se aprazem com o conjunto disperso de
informações
A esperança tornou-se rara especiaria
Luz fugidia num céu de nuvens
Pelos vitrais de nossas catedrais
Imagens antigas, impávidas,
inexpressivas
Testemunham a nossa decadência
O leite derramado
Haveria uma
passagem subterrânea
Um graal escondido nos porões?
Não, seus soldados estão dispersos
Seus exércitos,
desmobilizados
A covardia é irmã do medo
Parida no meio do povo por uma
serpente
Que se esgueirou pelos becos e pelos
bairros
Pela boca dos que maldisseram seus
reis
Seu castelo está cercado, senhora
Os campos secos, a colheita perdida
A esperança tornou-se rara especiaria
Luz fugidia num céu de nuvens
Marcelo Vieira Graglia
São Paulo, 5.7.17