terça-feira, 20 de junho de 2017

A Serpente















Minha senhora, há muito tempo não nos víamos
Derrotados, cabisbaixos
Oblíquos, esdrúxulos, desgarrados
Implorando misérias, favores e concessões

Eles se refastelam com o banquete de enganos
Se aprazem com o conjunto disperso de informações
A esperança tornou-se rara especiaria
Luz fugidia num céu de nuvens

Pelos vitrais de nossas catedrais
Imagens antigas, impávidas, inexpressivas
Testemunham a nossa decadência
O leite derramado

Haveria uma passagem subterrânea
Um graal escondido nos porões?
Não, seus soldados estão dispersos
Seus exércitos, desmobilizados

A covardia é irmã do medo
Parida no meio do povo por uma serpente
Que se esgueirou pelos becos e pelos bairros
Pela boca dos que maldisseram seus reis

Seu castelo está cercado, senhora
Os campos secos, a colheita perdida
A esperança tornou-se rara especiaria
Luz fugidia num céu de nuvens

Marcelo Vieira Graglia
São Paulo, 5.7.17