sexta-feira, 23 de maio de 2014

Roca da Vida

Quadro pintado à mão Casa de roça no Elo7 | Ateliê Espaço das Flores  (12C4AA1)


Fia manto
Fia luz
Fia dia
Cada boca aberta
Tem dente, tem fome
Tem guela

Fia manto
Fia luz
Fia dor
Se de dois um morre
Cada um faz dois
Cada três faz nove

Fia manto
Fia luz
Fia vida
Se busca esperança
No outono não vinha
Se tenta de novo
Se acaba na esquina
Se engana seu povo
Te descem a ripa

Fia manto
Fia luz
Fia toda
Cabeça que rola
Caçapa de bola
Ponto cruz
Facho de luz
Fia a roca
Fia, fia, fia

Marcelo Vieira Graglia

Um fim

De toda bruma e de toda névoa

Que dos olhos oculta o que se cerca
Oculta o que se espera
Tal cortina úmida
Qual trama d'água
Virá um calafrio, um estupor
Um medo primitivo
Daqueles de criança que entra na casa escura
E ouve o silêncio que sussurra

De toda bruma e de toda névoa
Que se movimenta ligeira
Sem carecer de vento, autônoma
A cobrir o caminho e seus entornos
Os viajantes e seus estorvos
Seus empeços, seus encalhes, seus embaraços
Virá um arrepio, um comedimento
E uma insignificância, tênue, qual manto sagrado
A cobrir seu destino

E alguma delas, na hora certa, o fará ser nada
Sem história, sem passado, sem parentes
Sem apreços, sem sonhos, sem tropeços
Será só bruma, só névoa
Qual cortina úmida
Qual trama d'água


Marcelo Vieira Graglia