quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Café da manhã

Se só um pouco houvesse, café preto
Se alguma coisa a mais pudesse:
Café com leite e pão com manteiga
Mas se fartura tivesse
Café com leite, pão com manteiga
Ovos mexidos e queijo branco
Sucos, frutas e aveia


Marcelo Vieira Graglia

Angústia

E no final vai restar
Aquele silêncio denso, insuportável
A sensação de esperar algo que nunca chega
Uma solidão tão só no meio de tanta gente
Um vazio no peito
Um desespero d'alma

Como se tivéssemos enterrado vivo o nosso sentimento
E assim o abandonássemos no meio da floresta
Ainda pulsando, inocente

E agora a angústia, o nó na garganta
Está tudo tão estranho agora
Um pensar em ocupar-se de um sei-lá-o-que
O distrair-se com o que não tem importância

E a falta de fome e a sensação de febre
E a expectativa da volta à rotina do normal
É o normal o único caminho?
Quem foi que disse?

Alguém que não amou além das cenas
Além das regras, dos tratados, das leis
Das convenções, das religiões, da moral

Alguém que só amou contido, quadrado
Sem graça, sem conhecer amor como este
E o que acontece agora, quando tudo perde o sentido?

Só escuto o silêncio
Só vejo a espera, que nem sei se termina
Não tem nada amanhã

Só ausência


Marcelo Vieira Graglia

O canto da sua boca

Precisava lhe dizer
Que o canto da sua boca
Me traz tanta felicidade

E é no brilho dela que parece
Que tudo aquilo que é ruim se dissipa
E tudo que é bom se aproxima

E naquele instante
Naquele instante que é tão rápido
O instante antes do sorriso
É como se fosse o alvorecer
Que de repente aparece
E ilumina tudo a sua volta

E o detalhe dos dentes
Brancos
E o detalhe da boca
Dos lábios esticados
Do canto reto
Este é o canto da sua boca


Marcelo Vieira Graglia

Abandono

Cheguei a acreditar
Que seu amor era de papel
Com o pensamento magoado
Fiz uma casa de tristeza

Nas janelas pus desenganos
Nas paredes, incertezas
Numa porta, desencanto
O abandono sobre a mesa



Marcelo Augusto Vieira Graglia

De cada canto

Flip 2015: Quando as luzes se apagam em Paraty | Brasil | EL PAÍS Brasil


De cada canto que havia
Saía um sussurro, uma agonia
De cada igreja que mofava
Uma reza, uma homilia

De cada trote, de cada rima
Da solidão que se escondia
Se fazia a bruma que banhava, de silêncio
Cada pedra que vestia aquelas ruas

E não pudera, pobre infeliz
Vagar impune à fantasia
De se cobrir de flores
De se matar de amores
De caminhar em saltos
De povoar em sonhos
Os jardins pequenos
Que nasciam em cada muro.



Marcelo Vieira Graglia