Quem sabe

Conta para ele desta sua tristeza

Já que achas que com ela não me importei

Fale do choro que teve

Construa seus pretextos

Destas lágrimas que já são minhas

Quem sabe lhe escreva um poema

Uma música, um bilhete, ao menos

Quem sabe lhe adivinhe os pensamentos

Sinta seus tremores, seus desejos

Ou toque sua nuca

Quem sabe saiba da sua fome

E admire suas extremidades e os defeitos que pensas ter

Quem sabe os sinos toquem e os pássaros os cerquem

E as árvores se façam tão presentes

Como se fizeram para nós

Quem sabe colha flores no caminho

E sua alma lhe seja gêmea

Quem sabe se lembre das mesmas canções

Que cantamos juntos

Quem sabe

O inverno está chegando

O vento sopra tão forte

Carvalhos, sussurros, histórias

As pedras e o chão que pisas estão gelados agora

A noite chegou para ficar

Antes que o sol se fosse

Há tempos os corvos não gritam notícias do Norte distante

Os muros de gelo refletem

A densa floresta além

Será que monta guarda seu irmão de sangue?

O inverno já está chegando

Não há nada mais a fazer

Vejo sombras e escuridão nos olhos do andarilho

Traição e infâmia

São tintas do trono de ferro

A guerra é só uma lembrança, não lutaria de novo

Tempos sem justiça

Réquiem para todo seu povo, escolha um caminho

Há nuvens pesadas no céu

Não agradeceu

Mandei flores para você, não agradeceu

O silêncio que restou, presente seu

Do que resta de nós dois, uma saudade

Esse tempo, agora sei, já passou

Na ilusão que eu semeei um grande amor

Não brotou um só momento

No pedaço deste chão, só tristeza, um desalento, desilusão

Madalena ou Harmonia

Procurei seu endereço

Sua imagem no espelho

Queria postar um livro

Palavras minhas à moda antiga

Surpresas sem sentido

Guardo tudo em armários

Distribuo senhas em números

Segredos de amigos

Codifico a vida

Só para resgatar a poesia

Endereço sem número

Madalena ou Harmonia

Mesmo sem números

Sem endereços

Entendemos os códigos

Somos os mesmos