quarta-feira, 1 de julho de 2020

Do que vale a pena


Eita vida ligeira, vida passageira
Num dia a gente é criança
Noutro dia já é gente grande
Gente madura

Corre hora, passa dia, semana, mês, acaba ano
Tudo vai mudando
O corpo, a família, a cidade, o trabalho
Mudam também os caminhos, mudam os sonhos

A gente, às vezes, vive distraído por esta vida
E nem se apercebe do tempo passando, inexorável
A cabeça perdida no passado ou no futuro
E o presente, coitadinho, esquecido

A gente compra coisas, acumula tranqueiras, vive bobagens
Entra de corpo e alma na roda-viva
Mas a vida, ela sempre nos manda lembranças
E nos lembra, na verdade, o que é valia

É um abraço, uma amizade sincera
Trocar sorrisos, exercer mútuo amparo
É toda forma de comunhão
Poder ajudar e poder ser ajudado

Valia é a natureza, o vento, o sol e a chuva, o mar, a montanha
Percorrer uma estrada repleta de boas lembranças
Conseguir domar a mente, acalmar o espírito
Perdoar e ser perdoado

 

São Paulo, 1.7.20

sábado, 13 de junho de 2020

Comunhão


Fechada em sua casa

Telefonou para Jussara, lá na favela

Perguntou sobre ela e sobre os filhos

Ouviu com paciência tantas agruras

Tantas incertezas, tanto que faltava

 

E o Verbo lhe fez em solidariedade

E lhe fez em irmandade

E do que tinha doou uma parte

E como podia acolheu a outra parte

Que, na verdade e de alguma forma, também a acolhia

 

Cercado por suas angústias

Procurou por Luis

E descobriu que Luis não era

Mas era João Francisco

Que do irmão usava o nome

 

E abraçou João Francisco, tão distante

E ouviu dele a improvável alegria

No meio de tanta cólera e tamanha pandemia
Contra todas as impossibilidades, João ainda sorria

E comungou com ele, como se fossem irmãos, um preto, o outro branco.



Marcelo Augusto Vieira Graglia

São Paulo, 13 de junho de 2020