domingo, 18 de fevereiro de 2024

Agora a chuva veio (em homenagem ao amigo Benito Campos)



Agora a chuva veio 

E veio a chuva

A moiá toda terra e toda gente

Que navega pelos descampados 

Que anda pelos rios 


Toda gente humana 

Todo bicho gente

Todo bicho bicho

Toda gente besta

Toda besta gente


É chuva que móia toda terra fértil 

Móia tudo o que presta 

E tudo o que resta

Móia a comida e móia o lixo

Móia a hóstia e móia a baderna


Eita chuva bendita


Chuva que móia os vivo

E os mortos-vivos

Móia os espritos

Móia os defuntos

E móia as rezas


Eita chuva


Agora a chuva veio 

E veio a chuva

A moiá todo sonho e toda sina

A que está escrita 

E a que não é sabida


Toda sina santa 

Todo santo sonho 

Todo sonho esquiso

Toda sina porca

Toda porca sina


É chuva que móia todo torrão escuro 

Móia tudo o que brota

E tudo que se esconde

Móia o livro e móia a vela 

Móia a semente e móia a terra


Eita chuva bendita


Chuva que móia e tamborila

No metal do telhado do sítio 

E em tudo que pulsa e que sente

Tamborila nos corpos

Tamborila nas mentes 


Eita chuva