terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Amphipolis


Tudo estava calmo

Um silêncio que de tão calado

Soava irreal e denso

 

Ecos de vozes chegavam

Uns poucos, e distantes

Abafados, ecos

 

Na planície onde haviam lutado como animais ferozes

A poeira se assentava

Os vivos já haviam se retirado

 

Os mortos restavam

Com suas tragédias e seus despojos

O vento, indiferente

Remexia cabelos e farrapos

Iludia os olhos de quem via

Fazendo parecer vida o que só era morte

 

O campo, terra seca e árida, nivelava todos os homens

Valentes e covardes

Filhos e pais

Jovens e velhos

Lúcidos e ignorantes

Amantes e brutos

Todos agora iguais

 

Nas aldeias, nas casas e nas cidades

Já se sabe de quem voltou e de quem ficou

As mulheres se vestem de angústia

Vão buscar os seus

Tudo que está perdido e não pode ser recuperado

Aguarda por elas