Havia algo de melancólico em seu olhar
E tanta coisa fechada dentro de si que nem cabia
Um pouco daquilo tudo ejaculava pelas pontas coloridas da sua caneta
E tomava formas nas páginas de um caderno
Gostava de observar seus traços em seu silêncio
Os dois se misturando
Um sendo base do outro
Outro sendo insumo de um
Como era difícil acessá-la
O medo de romper a bolha de sabão furta-cor
Que frágil do mundo a protegia
Havia algo de melancólico em seu olhar
Que só se dissipava quando sorria
Ou quando caminhávamos aos pequenos esbarros
Regalos que me dava em intermitências
Prendas que fingia não ver roubadas
E como dela não extraía qual o sentido
E como seus enigmas insistiam invioláveis
A perscrutava, os olhos, o pensamento
Tentando decifrá-la, capturar seus segredos
Mas a cada investida restava de mãos vazias
Querendo tê-la
Por mais descabida que fosse a razão e o desejo
Disfarçava os próprios olhos e os próprios gestos
Entre desvios e floreios
Entre o querer tocar e o receio