domingo, 8 de setembro de 2024

Ao final


Depois de tantos sinais 

De tantos avisos 

De tantas súplicas 

De tantas ameaças 

Os ultimatos

As previsões

As maldições

As profecias 


A Terra escancarou sua boca enorme

E dela verteu caudalosa baba

Como se um Rio Amazonas inteiro fosse derramado sobre aqueles campos e morros e alhures 

Reluzente e dourado, denso e malcheiroso


Os olhos que a contemplaram cegaram

Os ouvidos, quase todos surdos, rompidos 

Um bafo de enxofre e calcário queimou narinas e pulmões

O medo congelou corpos e mentes deixando-os estáticos 


A fúria titânica rodopiava e se expandia para além e além

Como uma horda bestial 

Como um exército de milhões marchando intrépido

As lâminas trucidando e ceifando sem piedade 

O ocaso de toda a vida num átimo 


Ali desabaram todos os séculos e séculos

Todos os registros, todos os indícios, todos os testemunhos

 Desapareceram consumidos por labaredas titânicas, inclementes


Quando tudo sobre sua pele havia evaporado 

E nada de orgânico ou vivo restava 

A Terra se engasgou com tal entropia 

E se contorceu num refluxo gástrico

Entre soluços e espasmos

A Terra sofria


Marcelo G

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