Depois de tantos sinais
De tantos avisos
De tantas súplicas
De tantas ameaças
Os ultimatos
As previsões
As maldições
As profecias
A Terra escancarou sua boca enorme
E dela verteu caudalosa baba
Como se um Rio Amazonas inteiro fosse derramado sobre aqueles campos e morros e alhures
Reluzente e dourado, denso e malcheiroso
Os olhos que a contemplaram cegaram
Os ouvidos, quase todos surdos, rompidos
Um bafo de enxofre e calcário queimou narinas e pulmões
O medo congelou corpos e mentes deixando-os estáticos
A fúria titânica rodopiava e se expandia para além e além
Como uma horda bestial
Como um exército de milhões marchando intrépido
As lâminas trucidando e ceifando sem piedade
O ocaso de toda a vida num átimo
Ali desabaram todos os séculos e séculos
Todos os registros, todos os indícios, todos os testemunhos
Desapareceram consumidos por labaredas titânicas, inclementes
Quando tudo sobre sua pele havia evaporado
E nada de orgânico ou vivo restava
A Terra se engasgou com tal entropia
E se contorceu num refluxo gástrico
Entre soluços e espasmos
A Terra sofria
Marcelo G
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