A rede se prendia a ganchos amarrados na estrutura de madeira do telhado
Acomodou-se nela sentindo que agora flutuava
A rede como um barco mole sobre águas
Que se moldava sem afundar
Seu corpo livre de quase todo o peso
Sentia-se ao mesmo tempo leve e relaxado
A chuva tamborilava aqui e escorria acolá
Numa espécie de sinfonia hipnótica
Aos poucos desprendia-se de tudo o que o levara até ali
As ansiedades, as materialidades, as vissitudes, os devaneios, a alienação cotidiana
Devagar imergia e se amalgamava àquelas matas, àqueles morros, àquelas terras
Como se a tampa de uma pia gigante, que removida, criasse um vórtice que o sugasse de volta
Um ralo que o puxava para dentro dele mesmo
Sugando suas memórias, suas dores, seus sonhos e seu cansaço
Voltava, assim, ao seu avesso, ao seu anverso, ao útero de si, à sua própria gênese
Para quem sabe beber um pouco do seu começo
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