Para Esther Proença
Poetisa, como se faz um poema?
Um poema, meu filho, se faz com pequenas coisas
Faça uma lista das coisas que gosta!
Observe as pequenas coisas do seu dia-a-dia
Poetisa, me conta, como se faz um poema?
Veja, meu filho, veja aquele homem na rua
Com sua vara acende os lampiões a gás
Os candeeiros alumiando estas ruas de São Paulo, já molhadas pela garoa
Poetisa, me diga, como se faz um poema?
Ouça, meu filho, ouça
O traquear dos vermelhinhos mandados por Getúlio neste ano de 32
Que ora avoam por sobre a cidade, sem que os valentes gaviões de penacho, dos bravos paulistas, qualquer coisa possam fazer
Poetisa, poetisa, como se faz um poema?
Cheire, meu filho, cheire
Sinta o perfume das laranjeiras nos pomares frescos da Nove de Julho
Sinta o cheiro do capim-cidreira naquela touceira aqui do sítio
Poetisa, poetisa, vovozinha, como se faz um poema?
Prove, meu filho, prove
Se esbalde com esta bela macarronada que mamãe preparou
Não tenha cerimônia, você é de casa!
Poetisa, poetisa, vovozinha, professora, como se faz um poema?
Me abrace, meu filho, me abrace
Sinta a minha ternura, toque a minha humanidade
Abrace a vida, meu filho, abrace a vida!
A poesia está nas pequenas coisas, a poesia está na vida.
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