sábado, 3 de abril de 2021

O velhaco

Máquina de escrever vintage em uma mesa de madeira em um quarto antigo com  livros antigos mesa de escritores retrô | Foto Premium



O poema começava como uma espécie de deslembrança, um olvido

Na penúria daquele quarto que era sua clausura

O papel, já velho, de tez amarelada

Se regalava com as letras, que eram o que sobrava de sua indigência

 

Naqueles tempos bicudos

Em que se vivia das mãos de Deus

A penúria não dava boa farinha
E em nada atinava com seu jeito farsudo

 

Pelas frestas da janela carcomida

Se ouviam as baforadas de ira

Que empesteavam as ruas

Cheias de gente a viver na pindaíba

 

Mas o matuto escrevia, agourento

A vaticinar a sua profecia

Se esquecendo da sua própria miséria

De sua completa incapacidade de resolver a própria vida

 

E da sua misantropia transbordavam palavras de ressentimento e de ódio

E, assim, ele comia-se de raiva

Enquanto chispava impropérios

Em plena Sexta-Feira Santa

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