O poema começava como uma espécie de deslembrança, um olvido
Na penúria daquele quarto que era sua clausura
O papel, já velho, de tez amarelada
Se regalava com as letras, que eram o que sobrava de sua indigência
Naqueles tempos bicudos
Em que se vivia das mãos de Deus
A penúria não dava boa farinha
E em nada atinava com seu jeito farsudo
Pelas frestas da janela carcomida
Se ouviam as baforadas de ira
Que empesteavam as ruas
Cheias de gente a viver na pindaíba
Mas o matuto escrevia, agourento
A vaticinar a sua profecia
Se esquecendo da sua própria miséria
De sua completa incapacidade de resolver a própria vida
E da sua misantropia transbordavam palavras de ressentimento e de ódio
E, assim, ele comia-se de raiva
Enquanto chispava impropérios
Em plena Sexta-Feira Santa
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